Hoje, levante mais cedo, junto com o sol, combine com ele o passeio, feche a porta devagar, uma roupa leve, um semblante leve, sinta os pés, ninguém precisa saber de nada, saia no primeiro vento sul, suave, sutil e fresco, pense que está saindo para algo especial, vá! No passo lento, sem pressa, sem medos, nada de barulho, zumbidos, apenas siga, sossego ...
Naqueles dias primaveris em que os olhos estão espertos e veem mais do que comumente veem, caminhe com eles bem abertos e calmos, aproveite o tom nobre da luz matinal, banhe-se nela, há muito a se ver, sentir; permita-se a sua própria companhia, e fique feliz por isso, e por algum devaneio que lhe chegue nesta hora sagrada e fortuita, que foi sempre adiada por ti. Siga na direção do chamado do rio, no ritmo agradável e distante que convida os seus ouvidos ao fluido cancioneiro das águas, ao longe, ao sonho. Não haverá improvisos, permita-se dissipar-se, tudo está no script da sua vida, inclusive você não viu, meu bem, que a poesia de sua banda preferida pode estar lá.
O índigo misturado ao verde, no céu, na mata, nos traços finos dos teus olhos, aqui, numa inspiração que não se empresta nem se inventa, porque sempre esteve com você, ao seu lado; e quer te contar que a vida corre, naquela liquidez tempestiva, morna e saborosa ali na frente, aonde te diriges. Caminhe, pés no chão, sinta-os, sinta a terra branda sob eles, no convite a incorporação; ouça a música do vento, dos jovens pássaros coloridos e do firmamento salvador, deste dia tão sagrado quanto todos, mas agora teu, neste exato momento; e não há o que mudar, meu bem, você está só, e não está só; dance novamente ao caminhar, abra os braços completamente, sinta-os longos e em asas, sorria, tudo é Deus, vida, você, nada é...
O passeio termina ali, continua a partir dali; você está só de passagem, não converse, não pense, aproveite o tempo que te deram nesta vida, neste mundo férreo, largue-se à toa, permita-se, inspire, expire, molhe os pés na água do rio, lave o rosto devagar, e novamente, mergulhe todo o corpo, se refresque, rejubile-se; você nunca esteve tão viva!... Você descobre que tem todo o tempo do mundo para não pensar, para viver, cantar e sentir. Dance a dança da sua vida!
Disse o monge de papel.
Francisco Gutemberg, ser humano, irmão, amigo, brincalhão, escritor, poeta, feliz, o que pensa por si mesmo, forte.
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