O Português é uma língua em contínua formação. Sofre diariamente influências de línguas da Europa, EUA, Oriente, África, Ásia, Japão e de dialetos regionais como o Brasiliense, Caipira, Carioca, Gaúcho, Mineiro, Nordestino, Nortistas, Paulistano e o Sertanejo.
Na atualidade, mais de 20% das novas palavras vêm dos EUA, a língua forte das transações econômicas em todo o mundo, a língua do império contemporâneo. Como vírus, chegam embutidas nos produtos, propagandas, cinema, livros, jornais, programas televisivos universais, viagens e outras forçadas pelo poderio hegemônico.
Nos dias atuais, a juventude brasileira, os profissionais de todas as áreas e a população em geral são bombardeadas pelos meios de comunicação com novas palavras, sem tradução, e que automaticamente são incorporadas à língua pátria. Lembrem-se de onlaine, apigreide, estandebai, chequim, delei, checaute, booque, fastefude, baipasse, uaifai, uatzape, email e outras.
Como o português brasileiro tem pouca importância mundial no comércio, indústria, música, literatura, turismo, história da humanidade e não é de uma nação de peso, sofre preconceitos em todo o globo terrestre e dentro do seu próprio povo.
Afirma-se que a alma de uma nação é o seu idioma e foi embasado nesta propriedade, que Portugal matou a língua nativa brasileira quando invadiu as terras de Vera Cruz em 1500, deixando-a sem alma e sem identificação.
No século XVI eram mais de 800 línguas nativas, destacavam-se o Guarani Kaiowá, Xavante, Yanomami, Guajajara, Terena,Tukano, Kayapó, Tupinambá e o Tupi-guaranI. No final do século XVIII, por volta de 1775, de uma só canetada, o Marquês de Pombal proibiu o uso de todas estas línguas nativas, as africanas e as embarcadas pelos estrangeiros, sendo oficializada o Português de Portugal. Esta medida culminou com o batismo linguístico da nação chamada Brasil. Uma Pátria sem língua e evidentimente sem alma, tendo que renascer das cinzas como um milagre e em 1850 quase todas as línguas autóctones praticamente estavam em desuso.
O genocídio aos habitantes da terra, pejorativamente chamados de INDÍGENAS, o genocídio aos seus idiomas, costumes e cultura juntos à transferência de riquezas minerais, vegetais e animais para a Europa, foi o suficiente para emplacar anos de atrasos à nação em nome da civilização colonialista. Isto gerou, alimentou e alimenta até os dias de hoje, preconceitos aos nativos e aos africanos, traficados por três séculos, ambos os povos tratados como coisas.
Para os Europeus colonizadores, os negros e os nativos não tinham alma e não eram considerados humanos. Nos Estados Unidos da América do Norte eram considerados caças, inclusive pelos poderes públicos até 1900, onde foram dizimados mais de 20 milhões de nativos em 100 anos de invasão inglesa, não foi diferente aqui no Brasil com a invasão portuguesa e a criação dos bandeirantes, comercializando e dizimando milhões de índigenas.
No Brasil um verdadeiro continente, o português sofre preconceitos de classes sociais, nível educacional, etnias, posicionamento político, gêneros e do regionalismo.
Na sociedade brasileira, o idioma foi fatiado em diversos segmentos: o culto que é o oficial, regido por leis, criado e praticado pelos intelectuais, pelos letrados, filólogos e os gramáticos que ocupam o culme da pirâmide linguística, tornando uma língua excludente para os que ocupam a base da pirâmide social, possuidora de no máximo 800 palavas para a comunicação.
O objetivo é sedimentar nas mãos das elites o poder da dominação e da inibição para as demais classes sociais. Pregam que o certo e o correto é o praticado por esta casta, que se autodenomina de classe superior, o errado e rasteiro, o praticado pelas demais classes sociais, principalmente nos rincões do país e nas regiões esquecidas. Quando na verdade não existe o Português errado, a língua é uma só e depende do nível sócial, econômico, cultural e de qual região pertence o cidadão
É primordial entender, que o português tem uma coluna, o de consumno diário, aquele que constitue o DNA da língua, o popular, o praticado em toda a nação e que todos compreedem, é o Português Universal e o elo entre todas as classes sociais.
O português culto e clássico, como um veículo moderno com os seus assessórios, direção hidráulica, portas elétricas, marcha automática, controles, ar condicionado, celulares, wifi, orientação por satélites ou câmeras são privilégios de poucos e às vezes supérfluor, o importante é viver sem atropelar a coluna central, respeitar o regionalismo, mastigar o feijão com arroz, as misturas protéicas e gordurosas sem se esquecer que nos documentos oficiais, é o Português oficial, o português culto o utilizado. O português falado está na alma de cada cidadão e vem das suas raízes, das suas entranhas e ancestralidades.
A Língua é patrimônio da sociedade, isto é, do povo em todos os níveis sociais e em todos os recantos do país. Não deve ser uma ferramenta de inibição aos que não praticam a língua culta, a língua daqueles que ocupam o ângulo superior da pirâmide sócio cultural, econômica e literária, uma vez que, mesmo os mais cultos, estudados e que leem com frequência, muitas vezes são ignorantes no repertório jurídico, da matemática, da química, da física e da medicina.
Fale e pratique a sua língua sem preconceitos ou inibição, contudo continue aprendendo a lingua culta da mesma maneira que se aprende a andar, nadar, dirigir e como se aprende uma profissão. Somos eternos aprendizes, todos os dias se aprende algo novo. Gratidão às escolas, aos professores, aos filólogos, aos gramáticos, aos historiadores, aos analfabetos, aos regionalistas e à natureza, eternos orientadores.
Estudante, viva sem quaisquer tipos de preconceitos, não se iniba na escola, pergunte e participe das oficinas de aprendizados. O seu português está sendo forjado e não deve sofrer avarias nesta fase da vida. Aprenda com os cultos, os letrados e os não letrados, porém não se enclausure no aprendizado do imaginário dos intelectuais. Não anule as suas origens, mescle todos os modos da língua e os utilizem nos momentos adequados, a depender dos interlocutores.
Tenha orgulho dos seus pais, de sua região, de todos os da sua convivência na infância e até dos animais não humanos do seu arrebol, isso é cultura.
Iderval Reginaldo Tenório
O termo preconceito designa uma atitude prévia que assumimos diante de uma pessoa (ou de um grupo social), antes de interagirmos com ela ou de conhecê-la, uma atitude que, embora individual, reflete as ideias que circulam na sociedade e na cultura em que vivemos. Assim como uma pessoa pode sofrer preconceito por ser mulher, pobre, negra, indígena, homossexual, nordestina, deficiente física, estrangeira etc., também pode receber avaliações negativas por causa da língua que fala ou do modo como fala sua língua.
O preconceito linguístico resulta da comparação indevida entre o modelo idealizado de língua que se apresenta nas gramáticas normativas e nos dicionários e os modos de falar reais das pessoas que vivem na sociedade, modos de falar que são muitos e bem diferentes entre si. Essa língua idealizada se inspira na literatura consagrada, nas opções subjetivas dos próprios gramáticos e dicionaristas, nas regras da gramática latina (que serviu durante séculos como modelo para a produção das gramáticas das línguas modernas) etc. No caso brasileiro, essa língua idealizada tem um componente a mais: o português europeu do século XIX. Tudo isso torna simplesmente impossível que alguém escreva e, principalmente, fale segundo essas regras normativas, porque elas descrevem e, sobretudo, prescrevem uma língua artificial, ultrapassada, que não reflete os usos reais de nenhuma comunidade atual falante de português, nem no Brasil, nem em Portugal, nem em qualquer outro lugar do mundo onde a língua é falada.
Mas a principal fonte de preconceito linguístico, no Brasil, está na comparação que as pessoas da classe média urbana das regiões mais desenvolvidas fazem entre seu modo de falar e o modo de falar dos indivíduos de outras classes sociais e das outras regiões. Esse preconceito se vale de dois rótulos: o “errado” e o “feio” que, mesmo sem nenhum fundamento real, já se solidificaram como estereótipos. Quando analisado de perto, o preconceito linguístico deixa claro que o que está em jogo não é a língua, pois o modo de falar é apenas um pretexto para discriminar um indivíduo ou um grupo social por suas características socioculturais e socioeconômicas: gênero, raça, classe social, grau de instrução, nível de renda etc.
A instituição escolar tem sido há séculos a principal agência de manutenção e difusão do preconceito linguístico e de outras formas de discriminação. Uma formação docente adequada, com base nos avanços das ciências da linguagem e com vistas à criação de uma sociedade democrática e igualitária, é um passo importante na crítica e na desconstrução desse círculo vicioso.
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